O expulsivo prolongado costuma gerar muito stress na equipe que está atendendo parto normal. Mas, afinal, o que pode ser considerado prolongado? Bom, primeira coisa é entendermos que a literatura define como expulsivo o período no qual a mulher se encontra com dilatação total.
No entanto, ao contrário do que muita gente acredita, o expulsivo não é sinônimo de nascimento. Mesmo com dilatação total pode existir ainda um caminho longo a ser percorrido antes que o nascimento aconteça. Esse período, segundo a literatura pode levar até 3 horas, sendo considerado diferente para as nulíparas e multíparas. Na prática, atuando com equipe treinada, já tivemos expulsivo de bem mais de 3 horas. Lembrando que a segurança no parto depende de várias situações.
Etapas do expulsivo: você conhece?
É preciso ter clareza que o expulsivo possui duas etapas. A primeira corresponde à dilatação total: colo totalmente dilatado e a cabeça do bebê na entrada da vagina. A cabeça do bebê precisa percorrer todo o canal vaginal para chegar na segunda etapa do expulsivo. Já na segunda etapa, a cabeça do bebê está na vulva e já é possível identificar o movimento natural de ida e vinda da cabeça do bebê no períneo (báscula).
É fundamental que tanto a Parteira (Enfermeira Obstetra ou Obstetriz) quanto a médica(o) obstetra tenham conhecimento dessas etapas. Cabe ao profissional esse discernimento do que precisa ser feito em cada uma das fases com tranquilidade. É importante ainda termos em mente que para cada mulher, há um tipo de expulsivo. Isso acontece porque cada canal vaginal é diferente e cada bebê passa por ele de uma forma. Por isso, precisamos cada vez mais treinar o olhar e oferecer cuidado individualizado.
E se demorar muito?
Como se lida com o expulsivo prolongado? Com paciência, respirando fundo, entendendo como está o bem estar geral da mulher, do bebê, e como ele está posicionado na pelve. Por exemplo, se o bebê está parado em zero de DeLee, está no estreito médio. Assim, o que eu preciso fazer para ajudá-lo a progredir? Seguir partograma é importante, mas só deixar que as coisas aconteçam às vezes não é o suficiente.
É necessário estudar, ter um olhar clínico, estar presente, fazer ausculta de bcf, entender se a mulher precisa ser estimulada a fazer movimentos e qual é o mais adequado para aquele momento e, além disso, é ter paciência. Esse olhar é fundamental.
Dessa forma, não adianta olhar somente a dilatação, é preciso observar a altura da apresentação e a presença de contração (intervalo, duração…). O bebê não está descendo? O BCF está bom? Bebê está rodado, lateralizado? Onde está o bebê? Como ele está? Como está a mulher? Essas são perguntas necessárias em um expulsivo prolongado.
Estímulo de TP não é ocitocina!
Parteira precisa saber manejar o expulsivo prolongado pois não é a ocitocina que vai fazer o bebê nascer se ele não estiver bem posicionado. – Ah, Karina, não pode usar a ocitocina nunca? Às vezes ela pode ajudar sim, porque por vezes o que está faltando realmente é motor. Nesse caso a ocitocina vai sim contribuir. No entanto, o que estou falando é que ela não pode ser a primeira escolha. Não adianta ter “contrações ritmadas e boa intensidade e duração” se o bebê não estiver bem posicionado.
Além disso, o estímulo da ocitocina endógena sempre é melhor do que a exógena. Então, o que é necessário fazer para melhorar a produção de ocitocina endógena? Lembrando que a ocitocina exógena se administrada de maneira inadequada pode levar consequências sérias para o andamento do parto. Além de trazer desfechos maternos e fetais não tão satisfatórios.
Dicas
Texto: Karina Fernandes Trevisan
Foto: Cibele Barreto