Trauma perineal: como prevenir

O assoalho pélvico (AP) corresponde a um conjunto de músculos e ligamentos responsáveis pela sustentação dos órgãos pélvicos. Quando falamos de atendimento ao parto, precisamos ter em mente que o manejo adequado está relacionado ao relaxamento dessa musculatura. Quanto mais tensa a musculatura do AP estiver, mais difícil será a progressão do parto.

O trauma perineal, por sua vez, é toda a lesão que acontece com essa musculatura no momento do nascimento. Podendo ser um trauma natural (laceração) ou provocado (episiotomia). As lacerações espontâneas acontecem de acordo com as condições do próprio corpo, podendo ocorrer, ou não. No entanto, se eu fizer um corte e puxar, a chance de ampliar a laceração será sempre maior.

Estudos já tem mostrado, inclusive, que a prática da episiotomia pode estar relacionada a lacerações de terceiro e quarto grau. Partos muito rápidos, assim como a adoção da posição ginecológica, tendem a favorecer traumas perineais graves. Já as posições mais anatômicas acabam modelando a região perineal e acomodando melhor a cabeça do bebê.

 

O trauma perineal pode ser leve, moderado ou grave, dependendo da profundidade de camadas que essa laceração atingir.

  • Primeiro grau: superficial, pele e mucosa
  • Segundo grau: atinge músculo
  • Terceiro grau: atinge esfíncter anal e pode ser classificado como A (quando menos de 50% do esfíncter anal é acometido); B (acomete 50% do esfíncter anal); C (quando atinge o esfíncter todo. Quando existe uma comunicação da vagina com o reto ele é considerado grau 4.

 

[box] Traumas graves podem trazer danos sérios às mulheres como incontinência urinária, incontinência anal, prolapsos, dores e muitos outros problemas relacionados à musculatura de assoalho pélvico e à saúde e qualidade de vida dessa mulher. inserido aqui[/box]

 

 

Quando fazer episiotomia?

A indicação de episiotomia é muito, mas muito pontual. A única condição que pode realmente justificar é o risco iminente de anóxia fetal.

É importante destacar que o protocolo do próprio Ministério da Saúde recomenda a não realização da episiotomia. Haja visto que  até o momento não existe evidência para sua realização, nem para sua não realização. Um estudo recente de protocolo para episio seletiva feito pela dra  Melania Amorim  mostrou que os desfechos neonatais observados (tanto nas mulheres que tiveram episio quanto as que não tiveram) foram os mesmos.

 

Não existem vaginas assassinas!

É importante termos clareza de que não existem vaginas assassinas! Nenhuma mulher vai prejudicar seu bebê no nascimento. Quem pode prejudicar somos nós, os profissionais. A episiotomia surgiu com a ideia de salvar os bebês, como se os nossos corpos não fossem perfeitos, como se não fossem feitos para parir. Existe aí toda uma construção do patriarcado, no qual os homens começaram a colocar defeitos nos nossos corpos e fomos comprando essas histórias. Não é possível acreditar que o corpo da mulher não foi feito para parir, se não, já nasceríamos com zíper na barriga, não é mesmo?

 

Como prevenir lacerações

– Não mexa no períneo da mulher: manipular o períneo na hora do expulsivo com massagem não é recomendado, sob o risco de trazer alongamento das fibras. Além disso, não dá para parir com alguém mexendo na sua vagina!

– Deixa a mulher na posição que ela quiser: a posição é de escolha dela e quanto mais livre se sentir para fazer os movimentos necessários, melhor.

– Imersão em água quente ajuda a relaxar o períneo.

– No pré-natal gosto muito de recomendar a massagem perineal feita com ajuda do companheiro. Uma vez que ela melhora a elasticidade da vagina e previne laceração.

– Não existem estudos que confirmem que o uso do epi-no na gestação previne laceração. No entanto, ele auxilia no treino de expulsivo pois traz mais consciência corporal para a mulher.

– Oriente a gestante a buscar uma Fisioterapeuta Pélvica se for possível. A fisioterapeuta de assoalho pélvico trabalha na conscientização e no fortalecimento do AP. Além de auxiliar tanto na preparação para o parto quanto na recuperação perineal no pós-parto, ajudando a recuperar a função da musculatura.

 

Lembre-se:

– Os estudos mostram que a compressa morna no períneo previne laceração de terceiro e quarto grau. Ou seja, nada dizem sobre prevenir primeiro e segundo grau.

–  Vaselina não tem mais recomendação de uso há séculos. A vaselina tem petróleo na sua formulação e ao utilizá-la o profissional pode estar expondo esse bebê a aspirar petróleo. Além de favorecer a laceração.

– Nosso papel no parto é proteger o períneo e assegurar que ele não será tocado.

– Sempre que possível, evite realizar sutura perineal em lacerações leves. A sutura nada mais é do que pequenos traumas que causamos no períneo. Tenho obtido excelentes resultados com a aplicação de laser no períneo.

 

Karina Fernandes Trevisan, Parteira e idealizadora do Curso O Poder do Partejar

Foto: Cibele Barreto Fotografia

 

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