Hands Off no parto: herói ou vilão?

O conceito de Hands Off na obstetrícia é não colocar a mão no períneo e nem no bebê assim que a cabeça nasce. Deixar o corpo da mãe e do bebê terminar de fazer o que precisa ser feito. Para isso, é essencial que o profissional que acompanha ao parto acredite no movimento de báscula como algo benéfico para o períneo.

Alguns profissionais alegam que o fato do bebê nascer sozinho (Hands Off) pode ocasionar maior dano perineal. O que não é verdade. Uma revisão sistemática da Cochrane (2017) refere que não faz diferença Hands On ou Hands Off em relação à presença de laceração de primeiro, segundo e terceiro grau.

Além disso, hands off tem uma evidência científica baixa para redução de episiotomia (os profissionais tendem a fazer menos epsiotomia). O que é bem positivo para a mulher.

 

Compressa protege o períneo no parto normal?

Os estudos mostram que  fazer a manobra de proteção perineal com compressa não se mostra nem benéfico e nem danoso. No entanto, vamos combinar, é muito desconfortável ter mãos em seu períneo quando o bebê vai nascer.

Além disso, fazer a retirada do bebê após o nascimento da cabeça pode ser traumático para o períneo da mulher. Uma vez que pode trazer maior chance de trauma de escápula do bebê ou lesão de plexo solar (dano irreparável).

 

Nossa formação é falha

A verdade é que a maioria dos profissionais que atuam na assistência direta ao parto (enfermeiras osbtetras/obstetrizes/médicos obstetras) não aprendeu que é possível esperar o bebê terminar de nascer sozinho. Em um parto fisiológico dentro do padrão não existe necessidade de retirar o bebê da vagina.

Somos treinados a olhar o momento do nascimento como urgência. Uma das coisas que se escuta muito durante nossa formação e atuação é que o bebê não pode ficar parado na vagina sob o risco de trazer dano à ele.

Por outro lado, se olharmos para a fisiologia do parto, teremos outra visão. Após nascer a cabeça, o próprio corpo da mãe entende que o bebê não nasceu inteiro. Dessa forma, mais uma contração chega para terminar o processo de expulsão do corpo.

 

Se o bebê demora a nascer, é perigoso?

Ficar parado na vagina com a cabeça pra fora traz alguns benefícios pro bebê. Uma descrição no Tratado de Obstetrícia Básica (escrito por Bussamara Neme), aborda o assunto, inclusive. Uma aspas aqui. Para quem não conhece, Neme é um professor super reconhecido no meio acadêmico e fundador do departamento do departamento de Tocoginecologia da Unicamp.

Pois bem, no momento em que o bebê está parado na vagina, com a cabeça pra fora, ele consegue expelir todo o líquido amniótico intrapulmonar. Assim, o ar consegue entrar mais livremente nas vias aéreas superiores após o término do desprendimento corporal.

O que precisamos ter em mente é que existe uma sabedoria fisiológica e universal para que o parto e nascimento aconteça de forma tranquila e natural, com o mínimo de intervenções possíveis.

 

Atualização constante

Cabe ao profissional bem treinado, atento a todo o processo de nascimento, saber agir de forma assertiva. Dessa forma, evita-se qualquer dano à mulher e ao bebê. Seja por ações realizadas de forma inadequada, seja por se deixar de fazer ações que precisavam ser feitas.

Para se chegar a esse ponto de assertividade, é necessário muito estudo. Também é válido acompanhamento de partos com profissionais comprometidos com a evidência científica e com o respeito à mulher.

 

 

Texto: Karina Fernandes Trevisan, Enfermeira Obstetra pela Universidade Federal de São Paulo; Mestre em Enfermagem Obstétrica e Doutora em Cuidados em Saúde pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo.

Foto: Liara Baroni

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