Partejar é estar ao lado, estar ali verdadeiramente presente e disponível para aquela mulher e para aquele bebê que chega à essa vida. Infelizmente vemos ainda muitos profissionais na assistência, tanto em hospitais públicos quanto privados, que olham a mulher e vão aguardar o trabalho de parto engrenar no posto de enfermagem! Isso não é partejar!
Claro que existe sim muita dificuldade para a atuação profissional das Enfermeiras Obstetras e das Obstetrizes dentro dos hospitais públicos e privados. Já atuei em ambos, como funcionária, e hoje atuo na rede privada como equipe externa, portanto, tenho consciência das demandas e das restrições de atuação que enfrentamos.
É complicado oferecer cuidado integral quando temos demandas administrativas da unidade para dar conta (e seremos cobradas se não dermos). Querer estar presente e não poder é realmente muito frustrante, mas é preciso lembrar que você escolheu essa profissão, aliás, você a escolhe todos os dias e nada muda se não fizermos a nossa parte e cobrarmos mudança. Participe: seja a mudança!
Abaixo, selecionei 10 dicas para te ajudar em sua jornada
1. A participação da Enfermagem na construção dos protocolos institucionais, com a inclusão de práticas baseadas em evidências cientificas, melhora muito a nossa atuação dentro da instituição.
2. Se não diminuirmos a relação de competição entre os próprios enfermeiros, nada vai mudar.
3. Existe uma norma do COFEN que orienta sobre a constituição do quadro adequado de profissionais. Fique de olho: o descumprimento dessa orientação gera sobrecarrega na equipe. A norma orienta no mínimo 3 Enfermeiras Obstetras por plantão de acordo com o número de partos que aquela instituição atende.
4. É necessário que o hospital tenha um centro de parto normal e equipamentos que facilitem o trabalho da Enfermagem. O ideal é que esses quartos sejam equipados com chuveiro individual, bola, luz indireta, música, difusor para óleo essencial e banqueta de parto.
5. Treinamento para que a equipe de enfermagem é fundamental. Não basta ter equipamentos, é necessário oferecer condições para sua utilização eficaz. Muitas vezes já entrei em sala de parto e vi a gestante sentada na bola cheia, quicando. No trabalho de parto a mulher não quica, ela deve usar a bola como uma banqueta! Por isso, além de estar um pouco vazia, a bola precisa respeitar o tamanho da mulher: ela não pode ficar na ponta do pé mas manter em um ângulo de 90 graus do joelho quando sentada na bola.
Esse tipo de orientação cabe à enfermeira, não é obrigação do médico, na maioria das vezes o médico nem sabe a respeito disso. O médico avalia e toma conduta junto com a equipe caso as coisas não estejam andando conforme previsto e não orienta manejo de trabalho de parto, essa função é da enfermeira obstetra/obstetriz.
6. Questione, não faça apenas o que sempre foi feito ou que alguém mandou você fazer.
7. Unam-se: recebo muitas mensagens de Enfermeiras dizendo que tiveram treinamento e não estão podendo atuar como gostariam. Minha resposta? Peçam demissão, todas!! Nós somos força dentro do hospital: nenhuma instituição funciona sem a Enfermagem! Faça pressão, sem pressão não vão nos olhar diferente. Lembrem-se: vivemos em uma sociedade que padece de machismo estrutural e isso nos afeta diretamente.
8. Mude a sua postura, acredite em você! Precisamos modificar a instituição e educar as pessoas para que olhem diferente para nós mas antes, precisamos nos olhar diferente também.
9. Faça escolhas conscientes, não baseadas no medo.
10. Cuide de cada mulher como ela gostaria de ser cuidada e não como você gostaria de ser cuidada. No pré-natal, incentive que ela faça o Plano de Parto e então individualize o cuidado! Humanizar é respeitar as escolhas do outro.
– Sempre que possível, se atualize: saber fazer manobras e técnicas de Spinning Babies, por exemplo pode fazer toda a diferença para uma assistência segura.
A mala da Parteira
A entrada de materiais externos no hospital nem sempre é bem vista: não é toda instituição que a permite. No entanto, a maioria dos hospitais não possui os materiais necessários para uma boa assistência e isso faz muita diferença. Não que eu não consiga fazer meu trabalho sem esses equipamentos, mas o fato que eles facilitam a assistência é inegável.
Se o hospital não conta com sala de parto, não faça a mulher parir em mesa cirúrgica!! É estreita, é impossível. O que eu costumo fazer nesses casos é: empurrar a maca para o canto, diminuir a luz, estender panos no chão, colocar a bola, a banqueta… criar um ambiente diferente ali e transformar a sala cirúrgica em um ambiente de fato aconchegante.
5 itens que não podem faltar na mala da Parteira
1. Banqueta de parto;
2. Rebozo;
3. Sonar (eu tenho Sonar e Pinar) para realizar ausculta segura e prolongada do coração do bebê.
4. Óleos essenciais. Não pode ter muitos? Tenha Lavanda, ylang, ylang e cravo.
5. Conhecimento: o essencial é a sua presença e seu conhecimento técnico sobre manejo do parto. Invista em conhecimento técnico.
Karina Fernandes Trevisan é Parteira e idealizadora do Instituto Poder do Partejar