O termo parto humanizado ainda gera muitas dúvidas, e até carrega alguns preconceitos – inclusive entre profissionais da assistência ao parto. Não são poucas as pessoas que ao ouvir o termo “parto humanizado” logo remetem a imagens das indígenas parindo na posição de cócoras, a muitos gritos e dor ou ao nascimento na banheira.
O fato é que existe ainda muito romantismo e preconceito em relação à humanização da assistência ao parto. Por isso, buscarei aqui esclarecer o termo e derrubar alguns mitos.
Parto humanizado é o atendimento centrado na mulher e no bebê, que visa resgatar o processo natural de gestar e de dar à luz. Diferente de práticas hospitalares tradicionais, esse modelo visa o respeito aos desejos e necessidades da gestante, promovendo um ambiente acolhedor e seguro para a chegada do bebê.
Parto Humanizado: Uma abordagem respeitosa ao nascimento
Bom, primeiro fato é que a essência do parto humanizado é o protagonismo da mulher e a participação ativa do(a) companheiro(a): são eles quem gestam, portanto, nada mais justo que recebam orientações confiáveis da equipe ou Obstetra para que possam tomar as melhores decisões. Menos sobre o parto como um evento técnico e mais como um evento familiar.
Princípios do Parto Humanizado:
- Autonomia da mulher: no parto humanizado, a mulher é encorajada a participar ativamente das decisões relacionadas ao seu parto. Isso inclui escolhas sobre a posição de parto, o uso de intervenções médicas e a presença de acompanhantes de sua escolha na cena do parto.
- Respeito à individualidade: cada mulher vivencia o parto de maneira única. Uma equipe humanizada reconhece e respeita essa individualidade, adaptando-se às necessidades específicas de cada gestante e família.
- Ambiente confortável: A humanização do parto busca criar um ambiente tranquilo e acolhedor, evitando procedimentos invasivos e proporcionando conforto emocional e físico à mulher durante todo o processo.
- Minimização de intervenções: No parto humanizado, a intervenção médica é utilizada apenas quando necessária, evitando práticas rotineiras sem evidências científicas, como por exemplo, a episiotomia (corte para “ajudar” o bebê a sair) e a aplicação de nitrato de prata no bebê logo após o nascimento.
Benefícios do Parto Humanizado:
- Maior vínculo mãe-bebê: A abordagem humanizada favorece a criação de um forte vínculo entre a mãe e o bebê, promovendo práticas como o respeito ao contato pele a pele na primeira hora de vida do bebê, a chamada hora dourada.
- Empoderamento da mulher: Ao proporcionar à mulher o controle das decisões, o parto humanizado fortalece o sentimento de empoderamento, contribuindo para uma experiência mais positiva e satisfatória.
- Redução do estresse: O ambiente acolhedor e a atenção personalizada durante o parto humanizado ajudam a reduzir o estresse e a ansiedade, contribuindo para uma experiência mais tranquila.
Parto humanizado: participação ativa em todo o processo
“Mas o respeito às escolhas da mulher e do casal não deveria ser a regra”? Deveria, lógico, mas infelizmente não é. O modelo de assistência humanizada atua no formato de horizontalidade no qual família e profissionais atuam em parceria.
Desde as primeiras consultas de pré-natal existe troca, partilha, e a família é envolvida em todo o processo. Para conseguir isso, a informação é algo que precisa ser priorizado.
A família tem todo o direito de receber informações baseadas em evidências científicas para, assim, fazer suas escolhas. Profissionais humanizado devem preparar os casais durante o pré-natal, assistir ao parto e intervir apenas se, e quando, necessário.
Parto humanizado tem que ser em casa?
Não é o local que faz um parto ser humanizado ou não, mas sim a forma com o que atendimento é feito. Portanto, o parto humanizado pode ocorrer no hospital, em casa ou na casa de parto. O importante é que a mulher se sinta segura quanto ao local escolhido.
O parto humanizado pode ser um parto natural, normal humanizado (quando utilizamos recursos como anestesia ou ocitocina); e até mesmo uma cesárea humanizada, intraparto.
Parto humanizado pode ter anestesia?
Muita gente acha que profissionais humanizados só usam óleos e massagem. É verdade que utilizamos alguns métodos naturais para trazer alívio e conforto ao tp – tudo isso acordado previamente com a mulher. Mas, se for necessário, ou da vontade da mulher, e o parto for no hospital, utilizamos anestesia sim.
Além disso, se houver qualquer tipo de intercorrência, como uma hemorragia, utilizamos as intervenções que forem necessárias para manter mãe e bebê em segurança.
Inclusive no atendimento ao parto humanizado domiciliar, a equipe de parteiras (Enfermeiras Obstetras e Obstetrizes) deve levar todos os materiais necessários para um atendimento de urgência, além de um amplo treinamento para atender qualquer urgência ou emergência que possa surgir.
Karina Fernandes Trevisan é formada em enfermagem obstétrica pela Unifesp, mestre em saúde materno infantil e doutora em cuidados em saúde, ambas pela USP