A formação profissional padrão recebida por Obstetras e Enfermeiras Obstetras se refere ao parto como um procedimento mecânico e técnico, quando na verdade ele é muito mais complexo do que isso.
Dizemos que o parto é um evento fisiológico, emocional e social. Fisiológico pois sabemos que o corpo da mulher tem um mecanismo organizado que favorece os bebês nascerem por via vaginal, de forma natural. A Organização Mundial de Saúde (OMS), embasada em vários estudos, refere que o parto normal pode acontecer de maneira fisiológica para 90% das mulheres, sendo que uma pequena parte pode apresentar intercorrências.
Emocional pois o parto vem carregado de medos, angústias, alegrias, incertezas e inseguranças: um momento em que a mulher fica frente a frente com ela mesmo, com suas sombras e se depara com sua força; E, por fim, social pois envolve as famílias, suas histórias e a sociedade como um todo.
Partindo dessa reflexão, não é possível olhar para o parto de forma técnica, sem considerar todos esses aspectos. Assim como não é possível descrever esse processo de uma única forma para todas as mulheres uma vez que para cada uma (em cada gestação) ele será única.
Além desse olhar individualizado, é preciso que o profissional entenda, acolha e oriente a mulher e a família com respeito às suas escolhas, clareza, empatia, segurança e acolhimento. É esse olhar integral, desde o pré-natal até o período pós parto, que a Humanização da Assistência ao Parto defende.
Informação é poder
A nossa sociedade, infelizmente, foi desencorajada a parir. Somos frutos da violência obstétrica. Minha mãe sofreu violência obstétrica, minhas tias, primas e tantas outras mulheres foram desrespeitadas em um momento em que mereciam ser apoiadas, empoderadas e cuidadas. Quando viraram avós, essas mulheres desencorajaram suas filhas a parirem, já que entre a violência obstétrica e não sentir nada, a segunda opção parece a melhor para suas filhas, não é mesmo?.
É nosso papel, enquanto profissionais do parto, oferecer informação baseada em evidências científicas aos casais que atendemos e lembrá-los que a cesárea é muito importante para o avanço do cuidado da saúde materna e fetal mas que é uma cirurgia de médio porte que traz riscos para a mãe e o bebê.
A cirurgia é uma via de nascimento segura quando o risco materno e/ou fetal de um nascimento vaginal for muito grande, trata-se uma laparotomia com abertura uterina para a retirada do feto que lá se encontra e precisa sair.
Profissionais bem treinados são aptos a adotar as condutas necessárias e intervir se necessário, mas apenas profissionais com esse olhar integral para cada mulher, cada bebê e cada família são capazes de atender o trabalho de parto de forma única e individual.
Karina Fernandes Trevisan é formada em enfermagem obstétrica pela Unifesp, mestre em saúde materno infantil e doutora em cuidados em saúde, ambas pela USP
Foto: Evelyn Angel