Parto Domiciliar é uma delícia, uma experiência única e muito transformadora, no entanto, é necessário que sejam tomados alguns cuidados para garantir a segurança da mãe e do bebê e resguardar o modelo de assistência que a duras penas tem sobrevivido no País. Por mais experiência que se tenha em hospitais, quando um profissional se propõe a assistir uma família em seu domicílio é fundamental que tenha ciência das diferenças no acompanhamento em cada um dos modelos.
Quem atende parto em casa?
Normalmente quem presta esse tipo de assistência são Enfermeiras Obstetras/Obstetrizes (Parteiras) visto que o COFEN/COREN (Conselho Federal e Regional de Enfermagem) não contra indica nossa atuação. Já o CFM/CRM (Conselho Federal e Regional de Medicina) não recomendam que os profissionais médicos atuem no parto domiciliar planejado (PDP), porém não proíbem que os profissionais da medicina que se sentem aptos a isso atendam em casa. Mas atender o parto em casa não é tão simples quanto parece.
O parto assistido em casa deve ser atendido por equipes capacitadas, com treinamento e experiência no atendimento de urgências e emergências obstétricas. É necessário um planejamento bem rigoroso e uma conscientização da gestante, dos casais e das famílias quanto ao que implica ter um parto em casa.
Quem pode ter parto em casa?
Uma das primícias desse atendimento é que a gestante tenha tido uma gestação de baixo risco, e entendemos que o risco obstétrico pode aparecer em qualquer momento da gestação incluindo o trabalho de parto. Sempre, em qualquer momento que o risco for identificado, essa assistência deve passar a ser hospitalar. Então os planos B e C do parto domiciliar devem estar muito bem estabelecidos.
Por outro lado, ter uma equipe de parto em casa com experiência pode também evitar intervenções desnecessárias, como por exemplo a transferência para o hospital sem necessidade real.
A transferência de um parto domiciliar pode acontecer em qualquer momento no trabalho de parto, porém é muito importante que ela seja indicada de forma certeira, precisa e oportuna para que não seja gerado nem incertezas e muito menos inseguranças para a mulher/casal. Realizar uma transferência sem real necessidade pode acarretar frustração e insatisfação por parte das famílias assistidas.
Então, aqui vão algumas dicas para profissionais (Enfermeiras Obstetras e Obstetrizes) que queiram começar atender parto em casa
11 dicas para atender parto em casa
- Tenha materiais de parto para assegurar a assistência segura. A mala da parteira é enorme, entre alguns equipamentos estão: Sonar, Torpedo de Oxigênio, Reanimador neonatal, Banqueta de parto, Local para aquecer os panos que são colocados no bebê, Soro fisiológico, ringer lactato, material de punção venosa, entre outros.
- Saiba atender urgências/emergências obstétricas e neonatais – ter o passo a passo dos atendimentos desenhados na cabeça e se possível e fluxograma dentro da mala de parto ajuda muito.
- Faça treinamento mensal com a equipe para atendimentos de hemorragia pós parto, distócia de ombro e reanimação neonatal.
- Lembre-se que é necessário saber puncionar acesso venoso, administrar medicação IM e IV, saber fazer Ventilação Positiva – VPP e massagem cardíaca em recém-nascido.3. Ter o telefone do SAMU ou da ambulância da cidade para possíveis transferências é muito importante. Saiba qual o Hospital mais perto da casa da mulher: ele deve estar localizado no máximo há 15min de distância.
- Esteja preparado para as críticas dos profissionais do hospital em caso de transferência.
- Se possível, tenha um plano de transferência seguro (equipe médica privada que possa ser acionada e que vá junto para o hospital, caso a mulher tenha um plano de saúde e a transferência seja para hospital privado).
- Não aceite atender o parto de quem você não conhece direito ou que não tenha passado pelo menos por 4 consultas de pré-natal com a equipe. O ideal é que o atendimento pré-natal da gestante inicie no máximo até 35 semanas de gestação.
- Tenha um TCLE (Termo de Consentimento Livre e Esclarecido) contendo o passo a passo do PDP além de todas as intercorrências que podem acontecer nesse modelo de atendimento. O casal precisa assinar esse termo e a equipe também, além de um contrato de prestação de serviço que contemplo direitos e deveres de ambas as partes.
- Tenha uma equipe backup ou um plano backup caso a equipe tenha um intercorrência e não consiga ir para o atendimento do parto.
- Atenda apenas mulheres realmente de baixo risco: não abra exceção.
- Se possível se una a alguém que tenha um pouco mais de experiência no atendimento de PDP ou tenha alguém que possa acionar em caso de dúvidas.
Karina Fernandes Trevisan é formada em enfermagem obstétrica pela Unifesp, mestre em saúde materno infantil e doutora em cuidados em saúde, ambas pela USP.